sábado, 14 de julho de 2012

EUA - Portland

No meu frágil plano de viagem, iria direto de Seattle (Washington) para San Francisco, pulando inteirinho o estado do Oregon. Mas algo me disse pra ir pra Portland (Oregon), mesmo que eu não tivesse qualquer ideia da cidade, nenhuma informação sequer além de alguém que me disse (depois de eu já ter decido ir pra lá): "Acho que você vai gostar de Portland". Outro motivo pelo qual simpatizei com a cidade foi a receptividade. Tentando fazer o possível com meu orçamento limitado, usei o CouchSurfing pra tentar diminuir as despesas. Antes de ir pra Seattle, enviei mais de 20 pedidos de acomodação, tive apenas 7 respostas, todas elas declinando. Em Portland, mandei 5 pedidos, 4 me responderam dizendo que me hospedariam (acabei ficando na casa de dois). Não é pra gostar de uma cidade com gente assim?



Festival de Blues
Minha primeira anfitriã de CS em Portland se chama Kate. Tem 54 anos e mora com seu filho Zeke, de 25. Ela é do tipo cabeça aberta, espiritualizada, praticante de yoga, estilo pós-hippie. Seu filho, como bom filho de hippie, é um tipo conservador. Um grandalhão, cuja principal diversão é internet e jogos de computador. Não bebe, não fuma, não sai muito de casa, ri pouco e não tem namorada. Parece ter opiniões bem definidas quando fala de política ou qualquer outro assunto.  Acreditar-se-ia que Zeke era jogador de futebol americano no colégio, parece mesmo que lhe falta o uniforme, mas não, não é fã de qualquer tipo de esporte, não pratica e não assiste. Kate já tem um jeito mais relaxado e debochado. Logo que chego na estação, me levam para uma volta pelo centro, que é longe da casa deles: tem que se atravessar o rio e andar mais 50 quarteirões. Vamos num restaurante vietnamita onde não há sequer uma opção sem carne (a não ser a salada, que não é comida de verdade), então digo que estou sem fome. Depois chega Earl, namorado de Kate, que por alguma razão começa a comentar filmes, cujos títulos lhe ajudo a lembrar. Começam a falar de George Clooney, e lá pelas tantas Zeke, com toda a seriedade, fala que, apesar de ser hetero, há alguns caras com quem ele admitiria ter relações. Diz ele que se tivesse que escolher um, seria o da propaganda do Dos Equis. Lembro do stand up comedian americano C.K. Louis, que tem um esquete inteiro falando que, apesar de hetero, gostaria de dar pro Ewan McGregor. Sua mãe diz que ficou surpesa com essa escolha. E comenta que o cara do comercial é parecido com o pai dele. Ele diz: That is creepy. E ela: It is. A conta chega e vamos embora.

No dia seguinte Zeke me leva por um long tour pela cidade. Ficamos horas caminhando, e ele pacientemente explicando as coisas que conhece e acha interessante. O mal-encarado é, enfim, um daqueles grandalhões de bom coração.  Vamos a uma livraria que é uma instituição na cidade. “Não pode sair de Portland e dizer que não visitou a Powell’s”, recomendou  Kate no dia anterior. É grande, mas não acho nada de mais. Decoração simples, tudo de madeira mais ou menos nova, como se fosse uma obra começando a ser construída. Não sei, mas não senti o espírito do lugar, se é que tem um. Fui noutra, depois, bem mais interessante, um sebo chamado Cameron’s.

Janela da primeira casa onde fiquei

Lema da cidade.


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