quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vancouver Riot 2011- vídeos

Aqui vão alguns dos vídeos que fiz durante a Vancouver Riot. Para quem não sabe o que foi, uma explicação rápida: depois de o time de Vancouver perder a final do campeonato de hóquei, em junho de 2011, os torcedores promoveram a destruição da cidade, queimando carros e saqueando lojas.

Esse dia entrou para a história da cidade.




terça-feira, 22 de novembro de 2011

Vancouver Public Library - II

VPL é palco de festas de casamento em finais de semana
Logo que cheguei em Vancouver passei a frequentar assiduamente a Biblioteca Pública. Como não tinha computador, usava os da VPL para acessar a internet. Passando horas por semana no local, comecei a observar as gentes. Muitos ali, como eu, também faziam do lugar um refúgio, e logo percebi que alguns rostos se repetiam.

Como o mendigo extremamente fedorento que sentava imóvel em uma das poltronas do segundo andar por horas, só pra escapar do frio e da chuva lá de fora. Ou o negro grande e barbudo e sorridente, que, levando as mãos acima da cabeça, batia palmas silenciosas ritmadas assistindo a vídeos musicais. As chinesas estudando inglês desesperadamente. Tem um outro cara, meio mendigo também, que coloca a mochila e o casaco na mesa do computador e sai pra telefonar. E fica sempre gritando no telefone, como se estivesse tratando de um assunto da maior urgência. Tenho minhas dúvidas se tem alguém do outro lado da linha.

Outro dia, esse cara, de uns desgastados quarenta e poucos anos, estava lá no seu telefonema quando um rapaz, do tipo faço academia e tenho orgulho do meu corpo tanto que uso uma camiseta que mostra o resultado da minha dedicação, viu que o único assento vago era o tal em que o outro deixava sua mochila e jaqueta. Ele lentamente começou a remover os objetos. Pra que? O tio do telefone veio correndo (a situação agora era mais urgente que a ligação) gritando.
- Não toca nas minhas coisas! O que tu está fazendo?!
- Não, é que....
- Está roubando a minha mochila?! Hey, ele está roubando a minha mochila!
Foi aí que o fortão, até então aparentemente tranquilo, resolveu reagir, afinal de contas de que adianta gastar tantas horas na musculação se não for pra tirar vantagem disso um dia?
Bem mais alto e jovem que o telefonador, o rapaz foi pra cima do outro, e quase encostando peitos e narizes, trocaram algumas frases amáveis, como: I'm gonna rip your fucking head off, mutherfucker!
(Vou arrancar tua cabeça fora, filho da puta!). Como se isso não fosse ameaça suficiente, também resolveu revelar informações sobre seus antecedentes criminais, dando o nome da penitenciária em que cumprira pena recentemente, ao que o outro respondeu que conhecia.
Nisso, apareceu um segurança da Biblioteca, ainda menor que os outros dois, tentando acalmar os ânimos da rapaziada. Como duas crianças, os dois beligerantes passaram a trocar acusações se dirigindo ao segurança, que, posso jurar, estava se controlando para não rir. Do mais forte, surgiu então a proposta de continuar a discussão fora do recinto:
- Let's go outside!
O outro:
- Ok, vamos. Só deixa eu terminar minha chamada.
E o segurança, pro jovem: 
- Acha mesmo que vale a pena? Seriously?
E pediu para o mais velho se retirar, o que fez prontamente, mas sem parar de resmungar. Vagou então uma cadeira do meu lado, em que o forte sentou, bufando. A biblioteca nunca ficou tão silenciosa.
Depois de uns dois ou três minutos (em que as estudantes chinesas aproveitaram para juntar suas coisas e fugir), ele deu um soco na mesa, se levantou e saiu correndo para fora da Vancouver Public Library. 
Nunca soube o que aconteceu lá fora...
Na escadaria da VPL, campanha sobre a violência de gangues

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Vancouver Public Library

Eu sou suspeito pra falar da Biblioteca Pública de Vancouver. Como bom tímido, me criei  em bibliotecas de colégio. Eram o único lugar em que eu conseguia me resguardar, mesmo que momentaneamente, da mediocridade absoluta que é o ensino no Brasil. Eu costumava pensar que se o mundo entrasse em guerra, eu poderia me refugiar numa biblioteca e seria feliz para sempre, guardião de todo o conhecimento do mundo. Acho até que desejava que essa guerra viesse logo. Enfim , cresci e abandonei (?) de vez esses delírios, mas continuou a busca por bibliotecas, sebos, livrarias, feiras do livro.

Daí que, chegando em Vancouver, a primeira coisa que fiz foi desfazer as mals, a segunda foi visitar a biblioteca pública. E que biblioteca, seis andares com tudo oque você imaginar, num prédio que imita o Coliseu. Lá qualquer pobre, como eu, pode fazer seu cartão da biblioteca de graça (desde que comprove residência e, no caso de estrangeiros, permanência mínimo de seis meses no país). E foi o que fiz na minha primeira semana. Desde então já perdi a conta de quantos livros de ficção, de ensino de língua, DVDs, audiobooks e outros itens já retirei.
E ainda se tem a comodidade de fazer reservas no conforto do seu lar. Os livros e filmes mais concorridos nem chegam a ir para as prateleiras, então tem que entrar na fila. Quando o item estiver disponível, mandam um email avisando que está lá e que você tem 5 dias pra buscar.

E outra coisa, todas as bibliotecas públicas da cidade (cerca de uma dúzia) são interligadas, então posso escolher onde pegar os itens reservados e posso entregá-los onde eu bem quiser.

Num próximo post falarei dos frequentadores da Vancouver Public Library.
Ah, fiz este vídeo na calçada em frente.



http://www.youtube.com/watch?v=D_p2Cm98T2I

Occupy Vancouver 2011

Sim, Occupy Wall Street, o controverso movimento que começou em Nova York e se espalhou por várias cidades americanas atravessou a fronteira e chegou no maior país das Américas. Depois de uma marcha que reuniu milhares de manifestantes há algumas semanas, o povo armou as barracas e ocupou o terreno em frente à Vancouver Art Gallery. E ninguém sabe quando pretendem sair (se é que pretendem). A polêmica já começou, pois, embora a prefeitura já tenha enchido o saco da situação, aqui a polícia não tem fama de violenta, vide a Vancouver Riot 2011.
Algumas fotos que fiz do evento.









terça-feira, 18 de outubro de 2011

Raça Humana

Existe um tipo de sociólogo que há alguns anos adotou o discurso de que não existem raças. Eles não perdem uma única oportunidade de soltar sua pérola: "Já foi cientificamente comprovado que não existem raças!" Sempre assim, com ponto de exclamação. Basta alguém comentar sobre a cor do cabelo ou dos olhos de alguém e eles se atiram sobre a mesa do bar (seu habitat): "Já foi cientificamente comprovado que blablabla..."

Mas o que eu ia dizer é que não consigo deixar de pensar nesses fabulosos cientistas sociais toda vez que caminho pelas ruas de Vancouver. Chineses, sauditas, coreanos, indianos, mexicanos, japoneses, brasileiros, vietnamitas, iranianos, líbios, alemães, russos, gregos e pessoas de muitos outros países. Não posso esquecer dos canadenses, claro. Dizer que são todos da mesma raça é como colocar um São Bernardo e um Chiuaua lado a lado e jurar que não consegue diferenciar um do outro. E, ao contrário do que esse pessoal pensa, não há nada errado em admitir essas diferenças. Agora, estabelecer qualquer parâmetro de valor ou hierarquia segundo o critério racial é um absurdo gigantescamente ridículo que deve ficar enterrado lá no longínquo século 20.


Sério, caminhar por Downtown Vancouver é a maneira mais rápida de dar a volta ao mundo. Não apenas pelas pessoas que você vai ver, mas também pelos restaurantes. Numa praça de alimentação de shopping center é possível encontrar comida chinesa, árabe, mexicana, vietnamita e indiana.

Alguns desses povos andam mais segregados, como os chineses. Engraçado que estão dominando o mundo ao mesmo tempo em que têm tradição de se fechar em guetos. A Chinatown de Vancouver é a terceira maior da América e lá você encontra de tudo, principalmente coisas nojentas que eles chamam de comida. Se vir gente andando em carrões turbinados com o som no volume máximo fazendo tremer as vitrines e assustar os passarinhos, a probabilidade de ser árabe é de 97,3%. Eles são fáceis de ser reconhecidos de longe: se vestem como jogadores de futebol brasileiros novos-ricos. 

Mas aqui a mistura racial, pelo menos no quesito interação social, se vê bem mais forte que na Califórnia, por exemplo. Lá os grupos andam separados. Mexicanos. Negros. Brancos. Aqui, numa mesa de bar, o que você vai ver muitas vezes parece aquelas propagandas de banco em que tentam colocar uma pessoa de cada raça: um loiro, um oriental, um miscigenado e um negro bonito.

Ah, sim, falei nessa mistura toda, mas não dei a ideia geral do que é a cidade. Mais da metade das pessoas é de origem asiática. Como a imigração é forte por aqui há anos, também se vê alguma resistência, como uma pichação que vi num muro outro dia: "Too many foreigners!".

Ah, as fotos ilustrativas do post são de canadenses originais, que moravam aqui antes dos imigrantes europeus.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Pride Parade

Vancouver e' local para uma das maiores paradas gays do mundo, com estimativa de publico de 600 mil pessoas. Mesmo assim, ela nao e' conhecida como Parada Gay, mas como Pride Parade. E ai' fiquei me perguntando: por que tiraram a palavra "gay"? Numa cidade em que o politicamente correto ja se espalhou por todos os cantos vao censurar uma palavra em defesa da familia, da moral e dos bons costumes? Nananina.

Logo percebi que a questao era justamente a nao exclusao dos heteros. Sim, pois todos estao convidados a participar da festa, nao importa quem de pra quem.  No dia havia muita gente usando a camiseta "Gay for a day". Mas o mais espantoso - se compararmos ao Brasil - e' o numero de empresas que fazem questao de apoiar a parada. Supermercados, hoteis e bancos tradicionais colocaram as bandeiras do arco-iris ou propagandas com referencias ao dia. Mesmo ao longo do ano alguns supermercados (isso sem falar em bares e lojas) colocam uma enorme bandeira na vitrine. Se isso acontecesse numa grande rede em porto Alegre, fico so' imaginando a reacao furiosa do povo, as cartas indignadas nos jornais, os jornais botando lenha na fogueira e alimentando a repercussao. E' realmente uma festa para todos. Aqui, pega mal e' para a empresa que ficar de fora.

Outra coisa sao os grupos representados durante o desfile: ha professores, medicos, enfermeiros, judeus, motoristas de onibus,  terceira idade, escoceses, e no fim ja nao se sabe quem e' gay e quem nao e', pois isso nao e' motivo pra fazer diferenca.

Lembro de uma vez, no Brasil, ter comentado com colegas da faculdade que tinha assistido ao desfile em Porto Alegre. A reacao geral foi de surpresa: "Tu foi?!" Ninguem mais tinha ido, so assistido na TV com o conto do olho. Aqui, acontece o contrario, se alguem disser que nao foi a reacao e': "Como assim, nao foi?!"

Abaixo, fotos que fiz la', num ensolarado 31 de julho de 2011.








Fachada da maior rede de supermercados


Propaganda de banco em parada de onibus

Propaganda de banco



sábado, 20 de agosto de 2011

Celebration of Light

No final de julho e inicio de agosto houve aqui em Vancouver um espetaculo chamado Celebration of Light. E' uma competicao internacional de fogos de artificio. Em 2011 participaram China, Espanha e Canada, sendo que o primeiro saiu vitorioso. Milhares de pessoas enchem a beira da praia para assistir, e as ruas sao fechadas para o transito de veiculos.










domingo, 14 de agosto de 2011

Dia da Maconha

Vi que no Brazil a chamada "Marcha da maconha" foi reprimida em várias cidades. O que logo me lembrou o 4/20 aqui em Vancouver. 4/20 eé 20 de abril.




Nesse dia o povo se reúne para celebrar a marijuana com toda a liberdade do mundo. Sim, o pessoal se reúne em uma praça, em frente à Vancouver Art Gallery (espaço típico para eventos políticos) e fuma o dia inteiro. E tambem vende a erva em diversos formatos, como em cookies e brownies. A Polícia? Fica no entorno da praca, só olhando tudo, e cuidando da segurança dos maconheiros.


E isso é engracado em Vancouver. É possivel fumar maconha na rua sem ser molestado por qualquer representante da lei, mas é totalmente proibido beber uma cerveja na calcada. Alias, pode-se dizer que o cheiro de maconha é o aroma oficial da cidade. Nao ha sequer um so dia em que eu nao sinta esse cheiro, seja na praia, numa praca, da sacada dos vizinhos, em qualquer lugar mesmo. Eu nao fumo maconha, mas acho que, para quem fuma, essa cidade e' um paraiso em termos de liberdade (no que diz respeito a preco, porem, me disseram que e' meio cara). Entao, se gosta da coisa, aproveite. Mas nao ouse beber uma lata de cerveja no camping se houver alguem menor de 19 anos presente nas proximidades: voce sera expulso sem apelacao.

Dois videos do dia da maconha em Vancouver:
Um

Dois

terça-feira, 12 de julho de 2011

Coisas que so tenho coragem de dizer longe quando estou a 11.315km de casa

Quando a gente esta longe e sabe que nao vai voltar pra casa tao cedo, acaba deixando o constrangimento de lado e se sentindo mais livre pra falar aquilo que, em outro ambiente, poderia lhe causar problemas pelo excesso de sinceridade. Entao o melhor a fazer e' aproveitar a ocasiao e escancarar algumas das

Coisas que so tenho coragem de dizer quando estou a 11.315km de casa.

#1: Torci para os Estados Unidos na última Copa do Mundo.
Sim, nao pude evitar.



 
#2
Arroz puro não é comida! 
(Essa só é constrangedora de revelar por causa dos meus amigos chefs ou donos de restaurantes)
Ok, eu sei que entra pela boca e ocupa espaço no estômago, mas as semelhanças com um verdadeiro alimento param por aí. Se for um risoto tudo bem, mas arroz puro, sinceramente, é um desperdício de espaço no prato. Lanco agora a campanha "Arroz puro nunca mais"!
#3 Choro toda vez que escrevo um email para os meus pais.
 
#4 Odeio rock argentino.
Forcando muito a barra ate engulo um Gardel ou uma Mercedes Sosa, mas nao consigo aguentar aqueles magrelos bigodudos que juram que estao abafando cantando musicas chaterrimas que na verdade nao sao rock, mas um pop dos mais bregas e sem graca. O meu problema e' que, por algum motivo que me foge totalmente a compreensao, muitos dos meus amigos parecem adorar esse tipo de musica (mas o Manual do Intelectual Pop pode explicar isso).
 

domingo, 26 de junho de 2011

Aposentadoria precoce

Pois e, em outro post eu ja tinha comentado que estava investindo em uma nova carreira aqui no Canada. Me valendo do estereotipo do "brasileiro bom no futebol", consegui lugar em um time como goleiro, sendo o unico estrangeiro do elenco. Como ja nao sou mais um guri e nao estava em plena atividade recentemente (e como a minha ultima investida como goleiro ha um ano me rendeu um dedo quebrado), os amigos daqui me deram muita forca, me incentivando com palavras como: "desiste enquanto eh  tempo"; "foi pegar logo a posicao mais dificil!" e outras pedradas certeiras na minha autoconfianca.


Mas nao desisti. Me forcei a acreditar que a minha origem me dava poderes especiais e fui em frente. Me inscrevi no campeonato, que conta com doze times, que jogam nos campos da Universidade nas noites de quarta. Como o time nao foi bem na temporada passada (apenas duas vitorias), acharam que minha "contratacao" seria um reforco de peso (e se considerarmos meu IMC, foi mesmo). Ao contrario do Brazil, aqui mulheres e homens podem jogar juntos. Alias, eh obrigatorio que pelo menos duas mulheres estejam em campo durante a partida.


Enfim, estreei. Mlehor do que imaginava. Fiz boas defesas. Nao o suficiente para evitar a derrota. Elogios depois da partida, inclusive do time adversario. Mas aconteceu algo inesperado durante o jogo: numa das primeiras defesas a bola veio tao forte que acabei sentindo o pulso. Continuei jogando e mais tarde outra bola forte: dessa vez doeu demais, vi estrelas, mesmo com o ceu nublado. E pensei: agora fudeu. Nao quis dizer nada para o time (jah que nao havia goleiro reserva) e continuei jogando ateh o fim. Quando tirei as luvas, vi que a mao direita estava do tamanho de uma maçã. O pulso inchado e vermelho. 


Depois disso tive o meu primeiro contato com o sistema de saude canadense. E nao foi dos melhores. A primeira coisa que voce faz eh passar o cartao de credito, e pagar uma quantidade absurda de dolares (que me seguro prometeu reembolsar). Depois de preencher milhares de fichas e dar quinhentas assinaturas com minha mao esquerda (sou destro), aguardei inacreditaveis 3 horas para ser atendido, mesmo que houvesse poucos pacientes na madrugada. So' consegui remedio para dor pois insisti. Diagnostico: fratura no pulso e lesao nos ligamentos.



Acabou aqui minha pretensiosa carreira esportiva internacional.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vancouver Riot 2011 - Especulacoes

Um conhecido colunista de Vancouver escreveu que "a cidade perdeu a inocencia em uma noite de junho" e que "foram expulsos do Jardim do Eden", e que as coisas nunca mais serao as mesmas, "foi bom enquanto durou".


E depois de tudo o que aconteceu fica dificil de engolir certos comentarios, como o de que a violencia da ultima quarta-feira foi "coisa de terceiro mundo". Engracado que nunca vi coisa parecida em Porto Alegre. Outros escreveram nos murais um recado aos vandalos: "Go back to Surrey [bairro de imigrantes pobres]". Acontece que, como a policia apurou, quem promoveu a destruicao nao foram os pobres nem os imigrantes terceiro-mundistas, mas o povo canadense bem educado e bem nutrido. E ai esta o choque que muitos nao querem admitir. A maioria prefere continuar achando que meia duzia de pessoas lideraram os ataques, sendo que milhares de pessoas se envolveram espontaneamente. E dai voce se pergunta por que um povo que supostamente tem tudo (inclusive um bom time de hoquei) de uma hora para outra vira uma turba de barbaros ensandecidos.


Agora que a poeira ja baixou da pra fazer algumas especulacoes.
Logo que se chega em Vancouver da pra perceber que e' uma cidade onde as coisas funcionam. Transporte publico eficiente, limpeza das ruas, respeito ao pedestre e ao ciclista, nao ha caes nem criancas abandonados, e muitas coisas que um brasileiro pode invejar. Mas toda essa organizacao tem um preco. E agora parto para a minha psicologia barata de boteco fedorento para explicar em parte o comportamento das pessoas.


No Canada e nos EUA o povo adora repetir que vive em um "pais livre". "This is a free country!", gritam orgulhosos. E ai' esta o primeiro erro, pois se visitassem o Brazil, por exemplo, saberiam que a liberdade das pessoas pode ser muito maior. Acontece que, para que a ordem seja mantida, milhares de pequenas regrinhas devem ser seguidas: nao se pode atravessar a rua com sinal fechado ($50), nao se pode andar com um cachorro sem coleira ($200), nao se pode jogar certos tipos de lixo nas lixeiras de parques ($2mil), nao se pode ficar parado do lado esquerdo dos degraus de uma escada rolante, nao se pode falar alto no onibus ou no metro, nao se pode tomar uma lata de cerveja na rua (sera interrogado por um policial), nao se pode beber alcool na presenca de menores de idade, nao se pode entrar em um bar a noite ou comprar bebida sem apresentar pelo menos dois documentos de identidade (mesmo que voce obviamente tenha mais que 19 anos), nao se pode sinalizar para o garcom ou garconete (deve-se esperar ate que ela venha perguntar se voce precisa de algo). E tem muito mais. No meu predio, exemplo, eu nao posso entrar sem abrir o portao com a chave ou alguem abrir para mim pelo interfone. Outro dia entrei aproveitando que alguem saiu e a pessoa me impediu de entrar, mesmo eu dizendo que era um morador. A explicacao que ele me deu? Um perfeitamente logico e estupido "It's the rules!" Se, de uma pilha de jornais gratuitos, eu pegar um apenas para ler a capa, nao posso devolver para a pilha, e sim coloca-lo no lixo (na lixeira apropriada para jornais, claro). Os atendentes de qualquer estabelecimento tem que dizer palavras simpaticas (mesmo que estejam deprimidos ou em um pessimo dia), soando com a espontaneidade de um boneco de madeira. Possivelmente esqueci de algumas outras regras, mas acho que ja deu para se ter uma ideia da falsa liberdade em que os canadenses vivem.


Nao estou dizendo que essas coisas sejam necessariamente ruins, pelo contrario, sao boas para varios aspectos da convivencia social, mas sao acoes que limitam a liberdade, sao restricoes que, se somadas, oprimem, pois muitas vezes sao ordens obedecidas automaticamente, sem qualquer reflexao. E nao tenho duvida que micro vontades de nao obedece-las ficam escondidas em algum lugar do inconsciente, para um dia jorrarem violentamente, como no dia 15 de junho de 2011. O brasileiro desobedece e transgride regras diariamente, sem dor e sem culpa, ficando afastado, ao menos coletivamente, desse tipo de explosao social.


Abaixo, mais fotos: