Assim como
aconteceu por 17 meses em Vancouver, a viagem contínua implica também
despedidas. É meio ridículo dizer que vai sentir falta de pessoas com quem
conheceu por apenas três dias ou até mesmo uma noite. Mas, como disse um outra
vez, o ambiente de viagem fortalece a intensidade das relações. Ou é
simplesmente um apego idiota de querer passar mais tempo com pessoas com quem a
gente se diverte fácil. Em 16 dias de viagem conheci algumas pessoas com quem
me diverti mas que não tenho uma particular vontade de rever, são como aquelas
amizades instantâneas de festa, em que as pessoas se abraçam, dão high five,
dizem coisas como “você é o cara”, e na manhã seguinte, quando a sobriedade
chega, o máximo de contato que se tem é um discreto levantar de sobrancelhas
mútuo, ou nem mesmo isso.
Mas há
outras mais difíceis de esquecer, aquelas que fazem a viagem valer a pena. Como
Matthew (Portland), o americano de Louisianna, que depois de cinco minutos na
sua casa já me fez sentir como se fôssemos roommates há meses; ou Henrietta
(Seattle), a alemã que desmascarava a falsa espontaneidade das minhas piadas
ensaiadas (mas que depois as anotava num caderno); Johan (San Francisco), o
motorista de caminhão sueco de poucas mas boas palavras; ou Jiyeon (San
Francisco), coreana com o inglês mais perfeito que já vi, única também em
vários outros sentidos; ou ainda Romain “doesn’t anybody here use drugs?” e
Malu, o doido casal de jovens franceses. São pessoas que provavelmente nunca
mais verei e que me deram momentos que não se repetem e que vou guardar por um
bom tempo.
Em viagem,
quando se encontra alguém, sempre se fala em reencontro. É menos um plano que
uma maneira de driblar o desconforto da despedida. “Vou te visitar quando for
pra Tóquio”, “Qualquer dia vamos tomar uma cerveja em Praga”, “Reserva um sofá
na tua casa pois vou pra Copa do Mundo no Brasil”. Foi assim em Vancouver o
tempo todo. Os únicos que fiquei sabendo que se encontraram foram japoneses no
Japão e brasileiros no Brazil. Sabe-se
que na maioria das vezes as pessoas nunca mais vão se ver, cada uma seguindo
seu próprio rumo. No meu primeiro dia de viagem, há 18 dias, em Seattle,
conheci algumas pessoas que fizeram a smesmas promessas de reencontro. Por
incrível que pareça, acabei mesmo reencontrando uma delas. Henrietta, voltando
pra Alemanha, veio pegar o voo de volta em San Francisco, onde estou, e ficou
no mesmo albergue que eu. Como em viagem tudo se acentua, pareceu um reencontro
de velhos amigos, com conversa madrugada adentro. Reencontro com gosto de
despedida, pois logo ela parte de novo pra terra do nunca mais e eu também.
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