domingo, 15 de julho de 2012

EUA - Portland (parte 2)


Já falei de algumas diferenças, ou surpresas, quando se sai do Canadá e e se entra nos EUA. Bem menos asiáticos, muito  mais mendigos, por exemplo. Ou restaurantes mexicanos cujos donos são realmente mexicanos. Outro choque cultural com o qual se demora um pouco pra se acostumar é o mau atendimento em bares em pubs. Garçontes de cara fechada? Não sei se alguma vez vi isso em Vancouver. Ou ainda um time inteiro de garçonetes feias e sem maquiagem ou roupas curtas? O Canadá te deixa mal acostumado mesmo. Pessoas gordas caminhando também chamam a atenção. Em Vancouver as pessoas gordas andam apenas em carrinhos elétricos.

Por outro lado, Vancouver é um pouco irreal, é meio que uma Ilha da Fantasia. Tudo é bonito,(com exceção de uma rua já mencionada aqui no blog), tudo funciona, as pessoas sorriem, agradecem, se desculpam, please, thank you, sorry. Sentia falta de uma ruindade autêntica, de algo que se torna bom por ser ruim. Em Vancouver há alguns lugares tentando passar por antigos, fingindo ser tradicionais. Na decoração, nada está lá por acaso, sabe-se que cada objeto é devidamente estudado antes de tomar seu lugar, para que alcance o efeito esperado. É como se a cidade toda fosse regida por um competente diretor de arte.


Isso tudo eu penso sentado no bar onde entrei depois de ter caminhado por horas pela parte mais feia da cidade em busca de um carregador de bateria da minha câmera (esquecido no apartamento no Canadá). Aqui em Portland algumas partes lembram o Canadá (Downtown) e outras a Califórnia, com seus caixotes comerciais  de concreto espalhados pela rua. Alguns quarteirões têm grandes espaços vazios (estacionamentos, na verdade), interrompidos por prédios térreos quadrados ou retangulares. São edificações solitárias, tristes, isoladas. Vi esse bar amarelo, anunciando pints por 2 dólares às quintas-feiras. E hoje é uma quinta-feira, então só pode ser mesmo um sinal divino. Entro.
Cameron's Books


Com o sol que fazia lá fora, mal consigo enxergar dentro do caixote mal iluminado. A garçonete é meio grossa, não sorri e é feia. Pergunta se estou ali pra almoçar (são quase 4 da tarde). Não, só quero a cerveja de 2 dólares (em Vancouver isso não existe, a cerveja seria, no mínimo, o dobro desse valor). A decoração é interessante. Há um longo balcão de bar em forma de U, e umas seis mesas. Tudo é um pouco decadente. O gasto carpete tem cor de vômito de vinho. Não há muita gente. Há cinco máquinas de video lottery, duas delas ocupadas por pessoas feias e mal vestidas. Uma mulher de uns quarenta e poucos anos mal vividos, cabelos curtos oxigenados, de short jeans e colant azul, de generoso decote, escreve e risca em algo, deve ser alguma loteria instantânea, sei lá. O único som é de uma TV passando uma luta de UFC, subitamente interrompido por uma música triste de Roy Orbinson. Procuro pela juke box mas não vejo nenhuma. As paredes são de madeira clara, um teto com um forro branco meio mofado em alguns pontos. Há resquícios de um restaurante chinês ter funcionado aqui antes: em algumas cadeiras, pretas com estofamento vermelho, há minúsculos dragões pintados; um quadro de pandas comendo bambu, desenhados por um amador; um pequeno quadro escrito em indecifráveis caracteres chineses dourados em um fundo vermelho aveludado. Pode ser uma mensagem de sabedoria (se é que as há) ou apenas “banheiro”, vá saber.


Em frente ao balcão principal do bar, cujo fundo espelhado é preenchido por dezenas de garrafas com nomes familiares – Jack, Johnnie, Jim -, há bandeirinhas triangulares nas cores primárias, como que esquecidas de uma festa junina escolar. Uma mosca insistente me rodeia (nunca vi moscas em Vancouver). Me dou conta de que esqueci a mochila que comprei hoje numa loja de usados no lugar onde comprei o carregador de bateria. Hora de ir embora. Agora toca “American Idiot”.

Um dos caixotes de concreto.

Minha segunda cama em Portland

Nenhum comentário:

Postar um comentário