Foram três
horas de San Diego a Los Angeles. Peguei o famoso e clássico Greyhound,
companhia de ônibus que opera nos EUA desde os anos 20. O legal é que logo na
entrada tu tem todas as tuas malas revistadas, e um detector de metal é usado
pra ver se tu está portando algo ilegal. O cara achou uma tesoura na minha (ui)
necessaire, e depois encontrou outra maior na mochila. Falou com um suspiro:
“ahhh....” como se fosse do FBI e tivesse encontrado um dossiê pra matar o
presidente americano. O que eu posso fazer, eu preciso de tesouras na minha
vida. “Aquela tudo bem, mas esta....” E no fim concordo que eu transfira a
testoura grande para a mochila que vai no bagageiro, que ele também não quer
criar caso no meio da sua manhã tranquila de trabalho.
Chego em Los Angeles, ainda levarei
umas duas horas até chegar em Venice Beach. Mesmo depois de sessenta e poucos
minutos na cidade ainda não avistei nenhum branco. Onde será que eles se
escondem?
Chego na
casa do meu host. Josh. De novo, como os outros hosts, me deixa super à
vontade. E agora, depois de dois dias na casa dele, não sei se consigo passar
uma boa ideia do cara. Ele tem tipo a minha idade, mas sem a seriedade que se
espera de gente da minha idade. No seu perfil já anuncia que a casa é “420
friendly”. Em pouco tempo dá pra ver que Josh não se interessa por quem não
seja “cool”, sem nada pra contar, sem histórias pra dividir, sem coisas pra acrescentar.
Mas mesmo assim vai com a minha cara. A
princípio eu poderia ficar apenas duas noites, mas na segunda noite me chama e
diz: “Não sei quais são teus planos, mas tu é mais do que bem vindo pra ficar
mais tempo se quiser.”
O
apartamento fica num prédio de tijolos vermelhos construído nos anos 1920, hoje meio hippie
meio hipster, a uma quadra da praia, biclicletas retrô por tada a parte. É um
cara relax, mas o apartamento é arrumado, limpo e com um bom espírito artístico
(as paredes são decoradas com quadros e pôsteres). Josh não tem absolutamente
nada na sua geladeira. Ok, meia garrafa pequena de sprite. No congelador,
apenas gelo. “I’m not big on food”, ele esclarece. Ele se interessa por tudo, é curioso e consegue manter uma
conversa (com ideias originais) sobre qualquer assunto que apareça, e sabe
improvisar tiradas espirituosas com tudo o que acontece em volta. Assistimos a
v[arios epis[odios de Louie e falamos sobre ex-namoradas. Saímos na primera noite e me apresenta a night
life de Venice Beach. É muito pouco tempo, mas o cara já se comporta como um
amigo de longa data. Não vou contar todas as histórias que me contou (por
exemplo, como já foi preso 7 vezes em 3
países diferentes), mas só posso dizer que é um rapaz que se interessa por
qualquer coisa que cheire a novidade. Ele tem uma carteirinha pra comprar
maconha em lugares especializados, que vendem a erva com a desculpa de que é
para uso médico. Diz que já hospedeu mais de 100 pessoas pelo CS, e que eu fui
o primeiro brasileiro. Até agora tenho dado muita sorte com meus hosts.
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