sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Nova York


Vou tomar a liberdade de escrever Nova York, ok?
"Ok", você responde.




Tinha grandes expectativas sobre a cidade. Não foram correspondidas, mas também não sei explicar direito o porquê. Talvez porque tenha sida a minha última parada na América do Norte, antes de ir pro Brasil, e já estava um pouco cansado (fiz as malas dez vezes em 45 dias).  Talvez porque nos dois voos que peguei para ir pra lá fui atacado por uma gigantesca dor de ouvido. Talvez porque estivesse fazendo o maior calor que senti desde o último verão portoalegrense. A visita a Nova York me lembrou minha primeira visita a São Paulo (não que eu queira comparar as duas cidades: perto de Nova York, SP não passa de um imenso  lixão a céu aberto). Em São Paulo fiquei decepcionado por não ser bem o que me diziam: uma cidade que, como NY, nunca dorme, e que tem tudo. A cidade brasileira tem tudo muito espalhado e, ao contrário do que dizem, dorme sim, e ainda acorda tarde.

Com Nova York não é muito diferente. Sim, a cidade tem de tudo, mas me diga quem é que realmente aproveita esse “tudo”? Ninguém. Como cidade oferecendo opções à sua população, é bem completa mesmo, como poucas no mundo. Mas ao considerarmos os indivíduos, é um mundinho que continua pequeno, do tamanho de cada um. Você não vai almoçar e jantar em restaurantes de 24 países diferentes este mês. Vai experimentar, no máximo, culinária de três ou quatro países, e provavelmente vai começar a repetir o seu café favorito, o seu restaurante, pizzaria e assim por diante. Procurei algum lugar onde comprar um sanduíche de falafel (onipresente em Vancouver) e penei para encontrar. Quando finalmente achei, numa carrocinha de rua, o sanduíche não era muito bom. Há a questão prática também: é tudo muito afastado, e são poucas as regiões com várias opções num mesmo local. E também não é que Nova York seja tão grande, a questão é que chamam de Nova York as cerca de cinco cidades aglomeradas na região. Central Park foi outra decepção. Ingenuamente, pensava tratar-se de um oásis de silêncio no meio da aglomeração do centro, mas é difícil achar um lugar silencioso e tranquilo no meio do Parque que, estreito, está sempre cercado de ruas movimentadas pelos lados leste e oeste. Também há uma rua que cruza o parque no meio. Enfim, difícil escapar do barulho em Nova York.


Os dias que se seguiram (fiquei 5 noites lá) foram mais proveitosos, e consegui aproveitar a cidade melhor, sempre caminhando muito e usando aquilo sem o qual a cidade seria impossível: o metrô.
Saí alguns dias com Harry, meu roommate australiano que, pra provar minha teoria, começou a comer bagel sempre no mesmo local e horário, depois pegar comida sempre no mesmo buffet e ir comer sempre sentado na mesma pedra no Central Park. Depois de um tempo circulando por lá, a confusão de linhas de metrô e conexões vai se tornando um pouco mais simples e familiar, facilitando os deslocamentos.


Fiz quase todos os programas de turista: Biblioteca Central, Brooklyn Bridge, Staten Island, Governor’s 
Island, Times Square, Empire State, Central Park, Metropolitan Museum, etc, etc, mas um dos melhores programas que fiz não está no roteiro da maioria das pessoas: o bar mais antigo de Nova York. Fundado em 1854, o McSorley’s por dentro parece um museu, ou melhor, como um porão abandonado há mais de um século. Todo de madeira, empoeirado, com “decoração” desleixada, um monte de objetos amontoados ou pendurados. Só há duas opções de cerveja: clara e escura,  e elas vêm sempre em dois copos. Se não há mesas suficientes pra todos os clientes, os garçons colocam as pessoas em mesas já ocupadas por outras, favorecendo o clima de integração. É barulhento mas , ao contrário de muitos pubs, dá pra ouvir e ser ouvido sem problemas.

The city that doesn’t sleep.



Nos EUA e no Canadá, e avida noturna encerra cedo. No Canadá os bares fechavam às duas da manhã, ou, se ficavam abertos, não serviam mais bebida depois desse horário. Nos EUA fecham ainda mais cedo, às vezes 1:30 da manhã. Reclamei disso um dia e alguém me disse: então você vai gostar de Nova York. Sim, como diz a música, é a cidade que nunca dorme. Durante o dia, vi uma placa curiosa em um bar: “Open till late: 2am”. Duas da manhã é tarde?! Uma noite, eu,  um argentino, um australiano e duas mineiras, saímos por Manhattan e depois da uma da manhã decidimos procurar um bar. Queria achar alguma rua cheia de bares e restaurantes e pubs dos dois lados, como há em qualquer cidade grande do mundo. Perguntamos por um lugar assim e as respostas eram sempre vagas. Uma das gurias quis ir num bar brasileiro, sobre o qual havia lido no seu guia. Pegamos um trem, caminhamos, chegamos lá e estava fechado. Caminhamos mais, até que alguém apontou o SoHo, e depois de vários quarteirões, agora já perto da 1:30, achamos alguns bares e restaurantes. Fechados. Os únicos locais ainda abertos eram armazéns. Num deles pedimos informação e finalmente encontramos um bar aberto, quase vazio. Como uma das moças era menor de 21, não conseguimos entrar. Decepção.


Nova York é um ovo

Vou com Harry até o Dakota Building, prédio onde John Lennon foi assassinado. Dali, vamos procurar o Metropolitan Museum e atravessamos o Central Park em algum ponto no meio. Vamos por um dos vários caminhos, conversando, quando avisto, vindo na direção contrária, um rosto conhecido, que custo um pouco a lembrar de onde. É um rapaz, ao seu lado uma moça, que fecha o quebra-cabeça.  É o casal inglês que conheci em San Francisco e do qual me desencontrei, sem pegar telefone ou qualquer contato, impedindo que nos encontrássemos novamente em NY. Chamo: “Joe”. Conversamos por uns 5 minutos, trocando impressões sobre a cidade. Numa cidade de 10 milhões de pessoas, quais as chances de encontrá-los assim, por acaso? Muitas.


Um comentário:

  1. É...tenho essa impressão que terei o mesmo olhar que você por Nova York, mas pretende conhecê-la,embora minha vontade é retornar a Suiça/Basel pequena e sem pretensões...Zurique, Berna...tudo lindo.

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