domingo, 10 de abril de 2011

Primeiro Post - Ainda no Brasil

Confesso que estava reticente com a ideia de criar mais um blog apenas para contar minhas desventuras de viagem, afinal já tenho mais uma meia dúzia de outros blogues inúteis não lidos por milhares de pessoas no Brasil inteiro. Mas não resisti.

Ainda não tenho ideia de com que regularidade conseguirei postar, ainda não sei bem o que me espera. Mas noutro país tudo muda. Talvez, até, a disposição para escrever blogues.

Quando fui para os EUA, quase onze anos atrás, dias antes de embarcar escrevi na primeira página do meu blog de papel que me sentia "mais lá do que aqui". Algo parecido ocorre agora, vivendo meus últimos momentos no Brasil, já em clima de despedida há dias.


Naquela ocasião, viajei para fugir. Não me dava conta de que os problemas viajariam sempre comigo. Mas eu era um jovenzinho imaturo que ainda não sabia lidar com as coisas do mundo. O que mudou é que agora sou um adulto imaturo que também não sabe lidar direito com as coisas do mundo.
Na verdade a principal mudança que percebo agora - e que me assusta - é uma certa tendência para ficar mais emocional e apegado às pessoas, e isso, como sabemos bem, é a porta de entrada para a breguice. Percebi um sintoma disso ao parar minha vizinha de andar outro dia para elogiar o seu tapete Welcome novo. Claro que ela ficou feliz, mas, obviamente, esse não sou eu. Também me peguei escutando com paciência e interesse a zeladora do meu prédio me contar por quinze minutos, enquanto eu tentava embarcar no elevador, como tem sido a sua tentativa de parar de fumar. Outro dia então foi assustador. Passei de ônibus ao lado de um parque num dia de sol e achei que as árvores com suas folhas douradas ao vento formavam uma paisagem bonita. Árvores bonitas?! Logo eu, que se precisar decidir entre salvar do incêndio uma floresta ou shopping center, logo vou pensar nos cinemas e livrarias que seriam perdidos.


Me flagro pensando também se não vou morrer logo antes de ir. Ando de bicicleta e penso que vou acabar embaixo de um ônibus, sinto uma leve dor no peito e já acho que é o prenúncio de algo fatal. Ah, claro, e tem o avião, essa coisa absurda que voa. É até estranho pensar em formas não voluntárias de morrer. Mas nada disso é apreensão, talvez seja um reflexo inconsciente para aquilo que penso sobre os que viajam: morrem um pouco para os que ficam. Mas, como eu respondi para uma amiga que falou "Então quer dizer que tu vai nos deixar?": "Não, vocês é que vão ficar".


...

Tá, mas o que tu vai fazer? Onde vai morar? Volta quando?
As dúvidas de todos também são as minhas. Não sei quase nada, praticamente um Sócrates. Mas quando souber dou notícias.


Enfim, espero que nos próximos posts eu seja mais objetivo, evitando ao máximo o desnecessário tom confessional, para o bem de todos os leitores.

Um comentário:

  1. Gostei do tom confessional... emo, porém verdadeiro. Vibrante estar sem raízes, assusta um pouco, mas dá aquele friozinho na barriga tão necessário para evitar a morte por tédio. Vá contando. Não resisti a tecer elogios para o fundo do blog - liiiindo!
    Bjos

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